A melancolia dos dias cinzentos: Um mergulho na introspecção sobre a tristeza e a busca por sentido

Picture of Psicóloga Tanaia Pires Rodrigues

Psicóloga Tanaia Pires Rodrigues

Psicóloga Clínica especializada em Psicanálize

Há dias em que o céu parece mais pesado, não é mesmo? Dias em que a luz do sol luta para atravessar as nuvens densas, criando um cenário que reflete perfeitamente o estado de nossa alma. Pois bem, confesso que hoje é um desses dias para mim. Sentada aqui, diante da tela do computador, prestes a iniciar mais uma sessão de psicoterapia online, me pego refletindo sobre a melancolia que por vezes nos envolve como um manto pesado e familiar.

É curioso como, mesmo sendo psicanalista, não estamos imunes a essas ondas de tristeza que parecem surgir do nada, não é? Talvez seja justamente por isso que escolhi falar sobre esse tema hoje. Porque acredito que é na vulnerabilidade compartilhada que encontramos conexão e, quem sabe, um caminho para a compreensão.

A melancolia, essa velha conhecida da alma humana, tem sido objeto de fascínio e estudo desde os tempos mais remotos. Hipócrates já falava sobre ela, associando-a a um desequilíbrio dos “humores” do corpo. Mas foi com Freud que a melancolia ganhou uma nova dimensão de compreensão, especialmente em seu texto seminal “Luto e Melancolia”.

Freud nos apresentou a ideia de que a melancolia seria uma espécie de luto patológico, onde o objeto perdido é internalizado e o ego se identifica com ele. É como se uma parte de nós morresse junto com aquilo que perdemos, seja uma pessoa, um ideal ou uma expectativa.

Lembro-me de uma paciente – vamos chamá-la de Clara (nome fictício) – que chegou à terapia online mergulhada em uma profunda melancolia após o fim de um relacionamento. “Doutora,” ela disse, sua voz embargada mesmo através da tela, “é como se uma parte de mim tivesse morrido. Não consigo me reconhecer mais.”

Ah, Clara… se você soubesse como suas palavras ecoaram em mim. Quantas vezes não me peguei sentindo algo semelhante? A sensação de estar desconectada de si mesma, de olhar no espelho e não reconhecer a pessoa que nos encara de volta.

É fascinante perceber como nossas emoções podem nos transformar tão profundamente. A melancolia tem esse poder, não é? De nos fazer questionar nossa própria essência, de nos levar a um mergulho profundo em nossas sombras interiores.

Mas veja bem, querido leitor, talvez seja justamente nesse mergulho que encontramos as pérolas mais preciosas de autoconhecimento. Como diria Jung, “quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda”.

A melancolia, vista por essa perspectiva, pode ser entendida como um convite. Um convite para olharmos para dentro, para explorarmos os cantos escuros de nossa psique que normalmente evitamos. É um processo doloroso, sem dúvida, mas potencialmente transformador.

Na psicanálise, falamos sobre a pulsão de morte, ou Thanatos, como Freud a chamava. É um conceito complexo e muitas vezes mal compreendido. Não se trata simplesmente de um desejo de morrer, mas de uma força que nos impele em direção à dissolução, ao retorno a um estado inorgânico.

Pode parecer assustador à primeira vista, mas a pulsão de morte também tem seu papel no nosso desenvolvimento psíquico. Ela nos permite deixar ir o que não nos serve mais, nos ajuda a aceitar as perdas e transformações inevitáveis da vida.

Lembro-me de outro paciente – vamos chamá-lo de Pedro (nome fictício) – que chegou à terapia lutando contra uma profunda sensação de vazio e falta de propósito. “É como se nada mais fizesse sentido,” ele compartilhou em uma de nossas sessões online. “Às vezes me pego pensando se não seria melhor simplesmente… desaparecer.”

As palavras de Pedro me tocaram profundamente. Não porque fossem incomuns – muitos de nós já tivemos pensamentos semelhantes em momentos de desespero – mas porque ilustravam tão claramente essa dança entre Eros (a pulsão de vida) e Thanatos.

Veja bem, a melancolia muitas vezes nos coloca face a face com nossa própria mortalidade, com a impermanência de todas as coisas. E isso pode ser aterrorizante. Mas também pode ser libertador.

Em nossas sessões de psicoterapia, Pedro e eu exploramos essa sensação de vazio não como algo a ser temido ou evitado, mas como um espaço de possibilidades. O vazio, afinal, é onde novas coisas podem nascer.

É curioso como a melancolia pode nos levar a questionar o sentido da vida, não é? “Qual o propósito de tudo isso?”, nos perguntamos em nossos momentos mais sombrios. Mas talvez a pergunta em si já seja uma pista. Talvez a busca por sentido seja, em si mesma, o que dá sentido à nossa existência.

Viktor Frankl, em seu livro “Em Busca de Sentido”, nos lembra que mesmo nas situações mais desesperadoras, ainda temos a liberdade de escolher nossa atitude. Mesmo nos dias mais cinzentos, podemos escolher como responderemos à melancolia que nos envolve.

Confesso que há dias em que essa escolha parece quase impossível. Dias em que o peso da tristeza parece esmagar qualquer vislumbre de esperança. Mas é nesses momentos que me lembro das palavras de Rainer Maria Rilke: “Deixe-se cair. Mas caia em suas próprias mãos.”

A melancolia, vista por essa perspectiva, pode ser uma oportunidade de nos reconectarmos conosco mesmos, de cairmos em nossas próprias mãos. De nos acolhermos com compaixão e gentileza, especialmente nos momentos em que nos sentimos mais frágeis.

Lembro-me de uma sessão particularmente intensa com Clara, a paciente que mencionei anteriormente. Ela havia chegado ao ponto mais profundo de sua melancolia, sentindo-se completamente perdida e sem esperança.

“Doutora,” ela disse, sua voz mal passando de um sussurro, “e se essa tristeza nunca passar? E se eu ficar presa nesse buraco negro para sempre?”

Naquele momento, senti meu coração se apertar. Quantas vezes eu mesma não havia me feito essa mesma pergunta? A melancolia tem esse poder de nos fazer acreditar que o sol nunca mais vai brilhar, que estamos condenados a viver eternamente sob um céu cinzento.

Mas então, me lembrei de algo que minha própria terapeuta me disse uma vez: “Tanaia, a única constante na vida é a mudança. Isso vale tanto para a felicidade quanto para a tristeza.”

Compartilhei esse pensamento com Clara, convidando-a a refletir sobre as mudanças que já havia experimentado em sua vida. Aos poucos, ela começou a se lembrar de outros momentos difíceis que havia superado, de outras “noites escuras da alma” das quais havia emergido.

É fascinante como a perspectiva pode mudar tudo, não é? A melancolia, vista não como um estado permanente, mas como uma fase transitória, perde um pouco de seu poder aterrorizante.

Mas não me entendam mal, queridos leitores. Não estou sugerindo que devamos negar ou reprimir nossa tristeza. Pelo contrário. A psicoterapia nos ensina a importância de acolher todas as nossas emoções, mesmo (e talvez especialmente) aquelas que nos parecem mais difíceis de suportar.

Como disse o poeta Rumi: “A ferida é o lugar por onde a luz entra em você.” A melancolia, vista por essa perspectiva, pode ser uma oportunidade de crescimento e transformação.

Na psicanálise, falamos sobre a importância de integrar nossas sombras, aquelas partes de nós mesmos que preferimos esconder ou negar. A melancolia muitas vezes nos força a olhar para essas sombras, a confrontar aspectos de nós mesmos que talvez tenhamos negligenciado.

Lembro-me de um momento em minha própria jornada terapêutica em que me vi confrontada com uma profunda melancolia. Era como se um véu cinzento tivesse caído sobre o mundo, drenando toda a cor e alegria.

No início, lutei contra esse sentimento. Tentei negá-lo, mascará-lo, afastá-lo a todo custo. Afinal, eu era uma psicanalista, não deveria saber lidar melhor com minhas próprias emoções?

Mas quanto mais eu lutava, mais a melancolia parecia se fortalecer. Foi só quando finalmente me permiti sentir plenamente essa tristeza, quando me entreguei a ela sem julgamento, que algo começou a mudar.

Percebi que minha melancolia tinha algo a me ensinar. Ela estava me mostrando partes de mim mesma que eu havia negligenciado, necessidades que eu havia ignorado em nome de uma busca incessante por produtividade e “felicidade”.

É curioso como nossa sociedade nos pressiona a estar sempre felizes, sempre produtivos, sempre “para cima”, não é? Como se a tristeza fosse algo a ser evitado a todo custo, como se os dias cinzentos não tivessem seu próprio tipo de beleza.

Mas a verdade é que a vida é feita de altos e baixos, de luz e sombra. A melancolia, vista por essa perspectiva, é tão natural e necessária quanto a alegria. Ela nos convida a desacelerar, a olhar para dentro, a reavaliar o que realmente importa em nossas vidas.

Lembro-me de Pedro, o paciente que mencionei anteriormente, que lutava com uma sensação de vazio e falta de propósito. Ao longo de nossas sessões de psicoterapia online, começamos a explorar esse vazio não como algo a ser preenchido a todo custo, mas como um espaço de possibilidades.

“É como se eu estivesse em um deserto,” Pedro disse em uma sessão. “Mas talvez… talvez esse deserto seja necessário para que eu possa ver com clareza o que realmente quero cultivar em minha vida.”

Essa metáfora do deserto me tocou profundamente. Quantas vezes na história da humanidade o deserto não foi um lugar de transformação, de encontro consigo mesmo, de revelações profundas?

A melancolia, vista por essa perspectiva, pode ser nosso próprio deserto pessoal. Um lugar árido e desafiador, sem dúvida, mas também um lugar de possibilidades infinitas.

É nesse ponto que a teoria da pulsão de morte de Freud ganha uma nova dimensão. Veja bem, a pulsão de morte não é apenas sobre destruição, mas também sobre transformação. É a força que nos permite deixar ir o velho para dar espaço ao novo.

Em nossas sessões de terapia online, trabalho com meus pacientes para reconhecer e honrar essa força em suas vidas. Não se trata de se entregar passivamente à destruição, mas de usar essa energia para transformação e renovação.

Clara, a paciente que mencionei no início deste texto, começou a ver sua melancolia pós-término de relacionamento sob uma nova luz. “É como se uma parte de mim estivesse morrendo,” ela disse em uma sessão. “Mas talvez… talvez seja a parte que precisava morrer para que eu possa renascer.”

Essa perspectiva de morte e renascimento é central em muitas tradições espirituais e filosóficas. Na psicologia analítica de Jung, falamos sobre o processo de individuação, que muitas vezes envolve períodos de “morte” simbólica e renascimento.

A melancolia, vista por essa perspectiva, pode ser entendida como uma espécie de “pequena morte”. Uma oportunidade de deixarmos ir aspectos de nós mesmos que já não nos servem mais, para darmos espaço a novas possibilidades de ser.

Mas não se engane, querido leitor. Esse processo não é fácil. Há dias em que a tristeza parece insuportável, em que o peso da existência parece esmagar qualquer vislumbre de esperança.

Lembro-me de um momento particularmente difícil em minha própria jornada, quando a melancolia parecia ter tomado conta de cada aspecto da minha vida. Era como se eu estivesse vivendo em um mundo em preto e branco, onde até as memórias mais felizes pareciam ter perdido sua cor.

Foi nesse momento que me lembrei das palavras do poeta Khalil Gibran: “A tristeza é um muro entre dois jardins.” Essa imagem me tocou profundamente. A ideia de que a tristeza não é um estado permanente, mas uma passagem, um portal entre dois estados de ser.

Comecei a ver minha melancolia não como um fim em si mesma, mas como um processo. Uma jornada difícil, sem dúvida, mas uma jornada com um propósito.

Na psicoterapia, trabalhamos para criar um espaço seguro onde essa jornada possa acontecer. Um espaço onde todas as emoções são bem-vindas, onde podemos explorar nossas sombras sem medo de julgamento.

Pedro, o paciente que lutava com a sensação de vazio, começou a usar nossas sessões online como um laboratório para explorar diferentes aspectos de si mesmo. “É como se eu estivesse me conhecendo pela primeira vez,” ele disse em uma sessão. “Descobrindo partes de mim que eu nem sabia que existiam.”

Esse processo de autodescoberta é uma das coisas mais belas que podemos testemunhar como psicoterapeutas. Ver alguém emergir de um período de melancolia com um senso mais profundo de si mesmo, com uma compreensão mais rica de sua própria complexidade.

Mas é importante lembrar que esse processo não é linear. A jornada através da melancolia muitas vezes se assemelha mais a uma espiral do que a uma linha reta. Há momentos de progresso seguidos por recaídas, momentos de clareza ofuscados por períodos de confusão.

Como psicanalista, vejo meu papel não como alguém que tem todas as respostas, mas como uma companheira de jornada. Alguém que caminha ao lado do paciente, oferecendo apoio e perspectiva nos momentos mais difíceis.

E confesso, querido leitor, que essa jornada não é unilateral. Cada paciente que atendo, cada história que escuto, cada batalha contra a melancolia que testemunho, me ensina algo novo. Me lembra de minha própria humanidade, de minhas próprias lutas e vitórias.

Há dias em que me sento diante da tela do computador, prestes a iniciar mais uma sessão de terapia online, e sinto o peso de minha própria melancolia. Mas então, respiro fundo e me lembro: não preciso ser perfeita. Preciso apenas estar presente, escutar com empatia e oferecer um espaço seguro para o outro ser quem é.

E não é isso, afinal, o que todos nós buscamos? Um lugar onde possamos ser verdadeiramente nós mesmos, com todas as nossas complexidades e contradições?

A melancolia dos dias cinzentos pode ser uma jornada desafiadora, mas não é uma que precisamos fazer sozinhos. A psicoterapia oferece um caminho para explorarmos essas emoções difíceis, para encontrarmos sentido mesmo nos momentos mais sombrios.

Se você se identificou com algo do que compartilhei aqui, se você também luta com períodos de tristeza profunda ou falta de sentido, saiba que não está sozinho. E mais importante: saiba que há ajuda disponível.

A jornada através da melancolia pode ser desafiadora, mas é incrivelmente recompensadora. É uma jornada que nos leva não apenas a uma maior compreensão de nós mesmos, mas também a uma conexão mais profunda e autêntica com os outros e com o mundo ao nosso redor.

Que tal dar o primeiro passo nessa jornada? A psicoterapia online oferece uma forma acessível e conveniente de começar esse processo de autodescoberta. Como sua parceira nessa jornada, estou aqui para escutar, apoiar e caminhar ao seu lado enquanto você explora os complexos caminhos de sua psique.

Lembre-se: a melancolia não é seu inimigo. Ela pode ser um guia, um professor, um catalisador para o crescimento e a transformação. E você não precisa enfrentá-la sozinho.

Que tal marcarmos uma sessão inicial para conversarmos sobre como a psicoterapia pode ajudar você a navegar esses dias cinzentos e encontrar beleza e significado mesmo nos momentos mais sombrios? Estou aqui, pronta para iniciar essa jornada com você.

Afinal, como diria o poeta Leonard Cohen: “Há uma rachadura em tudo. É assim que a luz entra.” Que possamos, através da psicoterapia, encontrar a luz que brilha através das rachaduras de nossa melancolia, transformando nossos dias cinzentos em oportunidades de crescimento e autodescoberta.

Compartilhe este conteúdo:

Comentários:

Quer saber como a psicoterapia pode te ajudar?

Se você está se sentindo sobrecarregado, saiba que você não está sozinho. Entre em contato e vamos conversar.

Últimos posts:

Tanaia Pires Rodrigues 2025 © Todos os direitos reservados

Contato

Fotografias por: Beto Rodrigues

Site desenvolvido com ❤️ por

Marketing Digital

Preencha seus dados e fale comigo diretamente no WhatsApp

Online